A Aceleração Tecnológica Vinculada aos Benefícios, Riscos, Barreiras e Potencialidades no Gerenciamento de Advocacias 100% Baseadas em Tecnologia.

Introdução

De acordo com Tomas Friedman (“Friedman”), colunista do New York Times, há três acelerações vigentes no mundo vinculadas aos seguintes fatores: (i) mudanças climáticas, (ii) mercado de trabalho e o terceiro elemento denominado (iii) Lei de Moore, que consiste no estudo da capacidade de transistores dobrar a cada 18 meses, mantendo o mesmo custo de fabricação. Isto é, com a velocidade do avanço das tecnologias, Friedman afirma que a “tecnologia está evoluindo mais do que a capacidade humana.”[1] Em relação ao avanço tecnológico e o mercado de trabalho, Friedman defende que é necessário “encontrar uma forma de transformar a inteligência artificial em assistentes artificiais que possam ajudar os trabalhadores. [2]

Um grande exemplo que ilustra a aceleração tecnológica é a crise sanitária acometida em todo o mundo em decorrência do COVID-19, em que a demanda por novos tipos de serviços e desenvolvimento de tecnologias impulsionados pela pandemia vem aumentando. Levando em consideração o isolamento social vigente, mudanças e tendências tecnológicas que levariam anos para serem implementadas, foram aceleradas e tornaram-se necessidades imediatas. Ademais, “é provável que essa mudança se acelere à medida que milhões de funcionários são forçados a trabalhar de casa, pressionando as infraestruturas de tecnologia corporativa.” [3]

Uma vez que as pessoas são instruídas a ficarem em casa, a pandemia acelerou a dependência de serviços envolvendo a tecnologia e consequentemente a aceleração da tendência do uso de tal.

Desenvolvimento

No que diz respeito a ideia de gerenciar um escritório de advocacia 100% baseado em tecnologia, existem quatro aspectos a serem levados em consideração que consistem em (i) benefícios, (ii) riscos, (iii) barreiras e (iv) potencialidades, abaixo brevemente analisados.

Os benefícios da implementação de um escritório gerido pela tecnologia envolvem a agilidade e praticidade nas tarefas por meio de softwares para o mapeamento de risco dos dados tratados tão como o julgamento de processos. A automação é um alicerce para eficiência, redução de tempo e custos em escritórios jurídicos, principalmente para trabalhos repetitivos e pouco desafiadores. “Essas soluções transformam o dia a dia jurídico, pois permitem que os advogados aloquem seu tempo em atividades mais sofisticadas e que necessitem de maior carga intelectual.”[4] As chamadas lawtechs, startups jurídicas, são as responsáveis por oferecer esse tipo de serviço e soluções.

Outra vantagem inerente ao avanço das tecnologias está relacionada ao “novo normal”, decorrente do COVID-19. A tendência da descentralização de escritórios e o consequente home office, permite maior demanda da tecnologia. Por exemplo, por meio de nuvens privadas de armazenamento, é possível segurar os dados da empresa com segurança e backups automáticos. Dessa forma “você pode efetivamente reduzir os riscos de perda de dados causados ​​por desastres naturais ou ataques cibernéticos.”[5]

Todavia, juntamente aos benefícios da automação e nuvens de armazenamento de dados, estão os riscos e barreiras, principalmente, na proteção de dados sigilosos nas nuvens, tão como a possível decisão injusta pelo software em julgamentos de processos judiciais mais complexos, sem levar em consideração questões éticas e subjetivas. Para mitigar tais riscos, se faz necessário (i) a implementação de softwares de ponta, (ii) a atualização continua deste, (iii) a compilação não somente de todas as leis vigentes no país e suas mudanças, mas também  de (iv) informações e notícias atuais ao que diz respeito a ética e direitos humanos envolvendo, por exemplo, religião, raça e sexualidade.

Ademais, uma vez que os softwares de automação tão como as nuvens armazenam uma imensa quantidade de dados, é indispensável de que o escritório de advocacia esteja de acordo com as normas da Lei Geral de Proteção de Dados (“LGPD”). É preciso restringir, proteger informações pessoais de clientes, como endereço, telefone, e-mail, e principalmente provas e dados sigilosos dos processos judiciais.

Conclusão

O contínuo avanço e inovação tecnológica no meio jurídico podem contribuir para a praticidade e agilidade de tarefas em escritórios de advocacias, por meio de tecnologias de interpretação de texto e inteligência artificial, denominado robôs jurídicos. Tais tarefas podem envolver o mapeamento de riscos, elaboração de contratos tão como julgamento de processos. Ademais, o uso de softwares a fim de desempenhar tarefas rotineiras em substituição a atividade humana, podem contribuir para a possibilidade de maior demanda de trabalhos e consequentemente a atração de novos clientes.

 

Todavia, há as atividades mais complexas que demandam maior carga intelectual, dessa forma, seria um risco gerenciar um escritório de advocacia baseado em 100% de uso de ferramentas tecnológicas, sem a atuação do ser humano. Como por exemplo, nos casos mais complexos nos quais questões de ética e direitos humanos devem ser analisados a fundo. Assim, por mais que tais ferramentas sejam diariamente atualizadas com novas informações, os profissionais jurídicos devem sempre revisar e analisar as decisões feitas pelos softwares. Em conclusão, a tecnologia deve ser uma aliada ao profissional jurídico, mas não uma substituição a tal.

[1]FRABASILE, Daniela. A tecnologia está evoluindo mais rápido do que a capacidade humana. Época Negócios, [S. l.], p. 1, 1 mar. 2018. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/03/tecnologia-esta-evoluindo-mais-rapido-do-que-capacidade-humana-diz-friedman.html. Acesso em: 25 jul. 2020.

[2] FRABASILE, Daniela. A tecnologia está evoluindo mais rápido do que a capacidade humana. Época Negócios, [S. l.], p. 1, 1 mar. 2018. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/03/tecnologia-esta-evoluindo-mais-rapido-do-que-capacidade-humana-diz-friedman.html. Acesso em: 25 jul. 2020.

[3] WAKABAYASHI, Daisuke; NICAS, Jack; LOHR, Steve; ISAAC, Mike. Gigantes de tecnologia podem ficar ainda mais fortes após crise da corona vírus: Pandemia mostrou relevância das empresas do setor, que passaram os últimos anos sob ataque de cidadãos, políticos e órgãos reguladores

[4] CÂMARA, Isabella. 5 lawtechs que estão revolucionando o setor jurídico no Brasil. Startse, [S. l.], p. 1, 27 abr. 2018. Disponível em: https://www.startse.com/noticia/startups/lawtech/5-lawtechs-que-estao-revolucionando-o-setor. Acesso em: 25 jul. 2020.

 

[5] TRINDADE, Juliana Xavier. 7 maneiras de transformar seu escritório jurídico com a gestão de documentos na nuvem. Juridoc, [S. l.], p. 1, 5 jul. 2020.

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